27.2.22

Oh mai, vou ser mai ('Poemário imberbe' 24: verme 9)







Oh mai, vou ser mai


E que?


Tenho medo


De que?


De nom o querer ser

de ter um bandulho enorme

de que fazer se o tenho


Querê-lo


E se nom me quere?


Amá-lo


E se nom o desejo?


Nom sê-lo



by Eva Loureiro Vilarelhe




25.2.22

Busco a paz ('Poemário imberbe' 22: verme 7)







Busco a paz

a serenidade pola que tamém hei de pagar

como por todo


Busco a paz

o descanso da guerreira que mereço

como todas


Busco a paz

o silêncio do meu mundo embaralhado

como o de todos


Busco o jornal

que me permitir alcançar

a mulher-casa dos meus sonhos

e encontrar     por fim

a paz



by Eva Loureiro Vilarelhe




23.2.22

Nunca perguntei ('Poemário imberbe' 20: verme 5)







Nunca perguntei

mas sempre soubem

só era questom de escoitar

e esperar

pouco a pouco fum descobrindo umha história

a vossa história

triste e apaixonada

bonita e devastadora

como todas as de amor

alheia aos detalhes

entre duas almas que se amaram

em silêncio

vejo-vos distantes…



by Eva Loureiro Vilarelhe




22.2.22

Quando o sal dos meus olhos ('Poemário imberbe' 19: verme 4)






Quando o sal dos meus olhos

nom derrete do teu peito o gelo

quando o teu alento de fumo

me deixa a mim sem el

quando aos brados destroças

qual onda expansiva

que me fica esperar?


Oh Mai cruel, em que te converteste?


—No Javé das pragas!

(Froito da vossa cobiça e soberba manifestas)



by Eva Loureiro Vilarelhe




21.2.22

Oles a lua cheia ('Poemario imberbe' 18: verme 3)








Oles a lua cheia

a tempo sem horas

a dia de choiva

e fás-me sentir bela


Sabes a vento do sul

a noite de agosto

a canto de grilo

e fás-me sentir bela


Achega-te à luz

que te quero   ver



by Eva Loureiro Vilarelhe




20.2.22

Vejo faíscas nos teus olhos ('Poemario imberbe' 17: verme 2)








Vejo faíscas nos teus olhos

vaga-lumes no teu cabelo

o teu sorriso de lôstrego

e as tuas sardas de ouro


O que vês som as estrelas no céu



by Eva Loureiro Vilarelhe




19.2.22

Tinha umha escura fervença ('Poemário imberbe' 16: verme 1)









verme




‘bicho pequeno da terra’






Tinha umha escura fervença 

que lhe bulia nas costas

tremeluzindo as estrelas

da noite mais amorosa


Tinha a pele alunarada   

cheia de dunas marinhas

polas vozes peneiradas

das intrépidas ondinas


Tinha sonhos de gaivota

molhados em leite e mel

cos que atingiria um céu

escarchado de filhoas



by Eva Loureiro Vilarelhe




14.2.22

Corro para ir ter contigo ('Cantos contos' 3)










Quando estamos fora, deleitamo-nos rememorando aquilo que, à nossa volta, já nom é como lembrávamos. Porém, mesmo a constataçom desse desencanto é agradável. Bendita morrinha. Será por isso polo que gosto tanto da minha cidade. Bom, cidade por ser umha das sete grandes da Galiza, para mim: aldeia. Cos seus quatro pontos estratégicos, onde rompo filas e descanso armas. Onde sinto o amor e a paixom que esperta em mim este naco de mapa em que nacim. Ante a luz grisalha, capaz ainda de arrincar algumha faísca das atrapalhadas lajes húmidas da Madalena. O olor acre das vozes que se perdem entre as ondas dum mar Pantim Classic. Ou a olhada intensa dum muro que impede ver o mar, e deve ser derrubado —entom-por-que-doe-tanto-deitar-abaixo-um-pedaço-de-história?—. E o castelo encantado feiticeiro de barcos, anfitriom de ervagem à espera dum meigalho que o rejuvenecer, para ter namoro coa lua que tanto o apaixona, tranquila e sigilosa ali no alto. 


Por isso corro para ir ter contigo, Ferrol, assi que podo. E chego, e procuro, e comprovo cum rápido olhar se está todo. Está todo? E, mália que nom, pois é, está. Nesse momento, nom me importo coa opiniom que mereces para moitos. Nom reparo nas comparaçons, nos comentários depreciativos, nas desvalorizaçons, que me laiam aí dentro como fai a auga salgada nas roçaduras da vida. Porque em ti sinto-me mais eu. Se nalgum lugar, nalgum momento, tenho umha identidade determinada, um porquê, umha razom, é aqui. E dá-me igual o que digam. Nom, nom escoito mais que o bater do teu coraçom acompassado co meu. Só isso, porque no meu lar fico tranquila e sigilosa, tal que a lua ali no alto. 



by Eva Loureiro Vilarelhe




6.2.22

Essa luz







Para María Bores Bermejo

(14.12.1966-29.01.2022)



Essa luz 

que emanavas ao teu passo

nom a levache contigo


Essa luz 

do sorriso nos teus beiços 

ficou connosco


Essa luz 

que nos afaga ao lembrar-te

foi o teu último presente 


Essa luz 

que te fai seguir presente 

entre nós e para sempre 

 

Essa luz

do teu generoso amor de amiga

filha tia irmá companheira vital


Essa luz, María, é a tua calidez

que ilumina o coraçom 

de quem estivo no teu



by Eva Loureiro Vilarelhe



5.2.22

Galiza é umha mulher de formas dondas e esponjosas ('Poemário imberbe' 15: terra 5)







Galiza é umha mulher de formas dondas e esponjosas

cujos peitos apontam para um céu que

supersticiosa

louva e abençoa


Umha mulher teimosa que mantém firme os seus ideais

com umha olhada perene e triste


Umha mulher que escondida chora os paus que recebe do destino

ou do tirano que a possui


Umha mulher sempre-nova sempre-viva

apesar de já luzir enrugas na testa

e que ainda há ter moitas mais



by Eva Loureiro Vilarelhe




4.2.22

Galiza arde ('Poemário imberbe' 14: terra 4)





Galiza arde

mas reverdece sempre

passeninhamente continua a estar

fresca qual mulher de má vida

que com ela comparte 

malfado assumido



by Eva Loureiro Vilarelhe




3.2.22

Busco identidade ('Poemário imberbe' 13: terra 3)







Busco identidade

e nacim com ela

quero mudar o rumo das cousas

mas já é tarde

detesto a violência

sei que essa nom é a saída


Vivo dividida 

entre dous mundos

duas histórias

dous países 

duas culturas



by Eva Loureiro Vilarelhe




2.2.22

Chove e a tua cor verde cinzenta cintila ('Poemário imberbe' 12: terra 2)






Chove e a tua cor verde cinzenta cintila

mas segue lene e tenra coma sempre

e quando nom chove choro

para que a verdura nom seque

e quando me achego a ti

som tamém verde

mas já verdeio desde que nacim


Todos nós ainda que nom nos decatemos 

temos um cordom umbilical invisível 

que nos une a ti

e quando andamos polo mundo adiante

sabe-se sempre o que somos

delatam-nos os olhos

esses íris pedreses que refletem

umha húmida faísca

quando ouvem o teu nome 

ou ainda que nom o escoitem



by Eva Loureiro Vilarelhe






1.2.22

Será que podo voar do Ninho? ('Poemário imberbe' 11: terra 1)







terra





Será que podo voar do Ninho?



Atendo

Silêncio

Por que me torturas assi?

Quero escoitar

Preciso escoitar o que quero

e digo de umha vez

—fala


E continuo sem ouvir nada

todo o meu corpo asseja um som

Espreita


Indiferença


Olho a terra

que compreende a dor desesperada que já nom podo agachar


E insisto

—responde


NOM

     que?

           NOM

                como?

                       NOM


Ora! Nom sei o que seria melhor…



by Eva Loureiro Vilarelhe