22.1.22

Prezada esmeralda ('Poemário imberbe' 10: trilhos 10)






Prezada esmeralda

onde se mergulham os meus olhos de peixe

onde boia o meu corpo docemente

que prateias em honra da tua namorada

ciumenta

do leito dourado do teu amigo

dos beijos e abraços às tuas incontáveis irmás


Salitre que ensarilha os meus cabelos de onda

estes ham branquear canda a tua escuma 

enquanto ti continuas a renacer


Consumir-me hei sem te voltar ver


Mas nessa altura ham descansar

as minhas cinzas no teu seio

e misturada em ti

serei contigo      por sempre

imortal



by Eva Loureiro Vilarelhe




21.1.22

Inverno ('Poemário imberbe' 9: trilhos 9)






Inverno

a casa do meu pai-meninho

acesa a lareira

enfeitiça-me o lume nada mais vê-lo

sento

fico a fitar para as chamas como umha parva

já nom sinto as conversas dos velhos

tenho o coraçom quente

acende-se a cara

choram os olhos

tanto tem

o tempo passa     nom há pressa

a lenha esgota-se

vai chegando o silêncio

e adormeço 



by Eva Loureiro Vilarelhe




19.1.22

Deitado ('Poemário imberbe' 7: trilhos 7)






Deitado

nas trevas a tenra luz da vela afaga a tua pele

morena


Quase nom distingo

o teu cabelo

preto


Devagar

o mel descubro

nos teus olhos

castanhos


E a minha alma ferve

coa tua olhada

azul



by Eva Loureiro Vilarelhe




18.1.22

Longa noite ('Poemário imberbe' 6: trilhos 6)






Longa noite

pouco sono

enleada no teu cabelo negro

mesta coa tua respiraçom forte

tal que umha bisagra

cansada

paciente 

qual digno carvalho

Pedro Chosco 

aqui agardo 



by Eva Loureiro Vilarelhe




16.1.22

Do meu eu ('Poemário imberbe' 4: trilhos 4)






Do meu eu

saem faíscas


Ilusom de mocidade!


Penso mudar o mundo

e despois    impotente

choro


Mas nom perdo o impulso


Oxalá perdure…



by Eva Loureiro Vilarelhe




13.1.22

Som moi nova e ('Poemário imberbe' 1: trilhos 1)





Poemário imberbe



Escrito aos vinte anos 

(quando —presumivelmente—

se tem mais por viver 

do que vivido)





trilhos




‘Grande é burro e é caminho’

sabedoria cabo-verdiana








‘CES FLEURS MALADIVES

C.B.’



Som moi nova e

nom tenho direito a odiar

tampouco motivos

mas sofro e

às vezes

a minha dor é tam

banal…


Nom tenho culpa

som filha da minha época

tampouco escusa


Só quero sonhar

mas que desta vez sejam

do bem as flores



by Eva Loureiro Vilarelhe