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13.8.25

Hesitante ('Figa' 6)






Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Vítima vista vingativa

desatendida a negativa


Marcas pancadas traumas lágrimas

fornicada até polas ânimas 


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


De pouco serve dizer nom

se vam com todo e sem perdom 


Adianta denunciar

se eles levam as de ganhar?


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Difícil decidir e o crime

cometido deixa-os livres


A nom ser que quadre a história 

sem falha dissuasória 


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Sempre estarei da tua parte

amiga mesmo que hesitante


Que atirem a primeira pedra 

quem sempre verdade dixera



by Eva Loureiro Vilarelhe





9.6.25

Aranha ('Nacos' 14)







Por umha zona pouco transitada

num escuro canto quase tropeço

e logo vejo inerte àquela aranha

revestida com asas de morcego


abatidas polo ar intempestivo

da primavera incerta que estou a ter

e sem ser exclusiva minha advirto

certo rancor contra mim sem querer


ou querendo quem sabe quem ordena

chover sem trégua e após escampar

deixando detrás tam revolta a terra

que custa um mundo se recolocar


umha mesma refiro-me na mesma

como a lesma que o mundo anda alterado 

de altercado em altercado e eu seresma

oxalá for a aranha daqui ao lado



by Eva Loureiro Vilarelhe





17.5.25

Esta noite ('Lira' 2)







Palavra de casamento

nem cha dou nem cha darei

passar o tempo contigo

isso si que o farei


—cantiga tradicional



O tempo passa-se aginha

lisca contigo meu rei

a falar disto ou daquilo

ou mesmo sem dizer rem


O silêncio entre nós

é calmo e embriagador

a gozar do meu calar

a rente do teu calor


Deixa estar o casamento

palavra minha é lei

fica comigo esta noite

que manhá já che direi  



by Eva Loureiro Vilarelhe



         

23.4.25

Chamai-me desastre ('Nacos' 13 )










Percorro o caminho empedrado

andando a trancos e barrancos

sementar infelicidade 

é a minha especialidade

a inutilidade da vida

comigo à vontade fica

se se tratar de urucubaca

de mau olhado ou mera desgraça

nom saberia responder

nem nada hai que poda eu fazer

calamidade é o meu outro nome

desdita o meu alcume e catástrofe

o apelido mas chamai-me desastre



by Eva Loureiro Vilarelhe




13.3.25

Maresia ('Atlântidas' 5)








Mar, metade da minha alma é feita de maresia

—Sophia de Mello Breyner Andresen—


Em calma o meu rosto ante o ar desafia

a revolta interior que porfia


os meus olhos teimando discernir

no horizonte o final da maresia


as minhas maos prestes a fugir

tal que ondas revoltas em maresia


o meu peito ofegante por banir

de si o amor falido na maresia


—co coraçom em nacos no cantil

tal foi a força dessa maresia—


o meu ventre loitando por sair

da sua ensanguentada maresia


os meus pés a ponto de sucumbir

enredados na imersa maresia


da floresta marinha a resistir

por baixo a alma feita de maresia


a revolta própria que porfia

da minha calma nom se saberia                                                            



  by Eva Loureiro Vilarelhe




27.2.25

Ouro ('Poesia incompleta para dissidentes' 4)







Nem romanos nem mouros

levárom o nosso ouro


somos nós a estragá-lo

quem anda a dissipá-lo


escorrega céu abaixo

e olhamos de soslaio


cuspimos para acima

sem ter quem nos redima


deixamo-lo escapar

de entre os dedos pingar

e o dia que faltar

nom há prestar chorar


rosmamos por vício

sempre é bom auspício


fai o verde derredor

cantar o reissenhor


os rios baixam fartos

fontes abrem regatos 


flor da vida viçosa

terra sem sede a nossa


de chover a fartar

havemo-nos queixar

e o dia que faltar

nom há prestar chorar




by Eva Loureiro Vilarelhe