31.10.22

Chega ('in.timo' 10)









Chega umha idade

en que o sexo sem carinho nom basta

—acaso algumha vez prestou?—

e já resulta impossível dissimular

tam temida e franca decadência


Chega umha idade

em que preferes tapar a descobrir

—acaso algumha vez exibiste?—

e esfregar a fragilidade do teu ego

contra um corpo igual de mole


Chega umha idade

em que engoles o amor próprio

—acaso algumha vez pensaste em ti?—

e decides amar sem ambages

a quem amas desde sempre


Chega umha idade

em que sem deixar de julgar-te

—acaso algumha vez dissentes de ti?—

optas por distribuir felicidade

ao passo que te fás mais feliz


Chega umha idade 

em que já nom recolhes tempestades

—acaso algumha vez sementaras?—

e o vento amaina ao teu carom

postulando em amante



by Eva Loureiro Vilarelhe





13.10.22

De velha ('in.timo' 9)










Como será a minha vida

pergunto-me de velha

ainda mais curta de vista

se calhar quase cega


Talvez tanto amor furibundo

que me consome e dá-me vida

já nom justifique no fundo

essa magra existência minha


Da memória que me restar

o sexo caia no esquecimento

sem fame de nada ora olhar

o solpor que precede o empíreo


Enxuta e satisfeita vida no fim

necessidades baixo mínimos

conhecidos os ansiados confins

descanse em paz tal os cínicos



by Eva Loureiro Vilarelhe