11.2.21

A fio ('Em suspenso' 16)








Amanheces com cara de ferreiro

auguro um dia bronco

marcado polo fastio da quotidianidade

perdura na minha boca o gosto a ferrugem

dos infames dardos envenenados

disparados na noite passada em branco


Sei que será amargura de pouca dura

que recuperaremos logo a harmonia

esquecidas aginha todas as desavenças

no entanto detesto este desassossego

no estómago e o imenso peso no peito

por ter dito o que nom sinto nem penso


Envergonhada por ter sido do mesmo jeito

singular testigo do acontecido

ao ver-nos rebaixados e indignos

deste amor que superou durante meses

vinte e quatro horas de convivência a fio

sem assinar a sua sentença de morte



by Eva Loureiro Vilarelhe