4.4.24

Manjar ('Fogos de artifício' 7)







She tastes like cola

Sweet sweet sugar cola

When I took a sip from her lips, she sent me on a trip

She keeps me up at night and that's all because she kicks

—Lou Bega song


Doce

doce doce e salgado

quem dixo umami?

lábios carnudos

é cheirar e salivar

ao abrir as portas do manjar

—lábios quer dizer—

língua lábios lábios língua

indistintos indistantes

e da fonte mana

cálida calda de baunilha

batida na ponta da língua

—em ponto de neve isto é—

de lamber os beiços

doce

doce doce e salgado

está na hora: umami



by Eva Loureiro Vilarelhe




8.3.24

Figa ('Figa' 3)






alis volat propiis



Cara amiga

nada nos vai vir dado

—bem polo contrário—

tudo nos custa um mundo

mas nom desistas nom

estou canda ti

estamos todas

de braços dados

em alto um punho

bem à vista olha bem

a nossa figa

sororidade mais irmandade

que tamém da nossa parte

há homes na nossa liga

nom temas logo querida

alçar o voo nunca mais

estamos contigo

todas canda ti

unidas no esforço comum

e próprio do nosso género

bem-vinda ti e bendita

entre todas as mulheres

cara amiga



by Eva Loureiro Vilarelhe




29.2.24

Porvir ('Quatro' 12)







Silandeiro o inverno

há sucumbir no seu fim 


silandeiro o frio 

há encetar o partir


silandeira a neve

há começar a fundir


silandeira a erva

há cobrir todo o capim


silandeiro o rio

há gorentar o bulir


silandeira a vida 

há devagar rexurdir


e o que semelhava finar

será o início do porvir



by Eva Loureiro Vilarelhe





14.2.24

Nom me chames amor ('Figa' 2)





Podes colher-me da mao mas

nem sempre

só quando eu estiver de humor                                                  


podes alternar canda mim mas

sempre que

eu te quiser no meu círculo


podes intimar comigo mas

nem sempre

só quando eu te der licença


podes partilhar o nosso mas

sempre que

lho digas ao vento só


podes espreitar de perto mas

nem sempre 

só se eu permitir esculca


podes ter a liberdade mas

sempre que

eu for livre por igual


podes vir trás gafanhotos mas

nem sempre

só se saltarmos à par


podes regalar-me flores mas

sempre que

ti nom me chames amor 



by Eva Loureiro Vilarelhe




25.1.24

Correr o frio ('Fogos de artifício' 6)









Busco-te

ou busco-me

inflamada

ansiosa por expandir

o pulso que abafa

escaldando o meu interior

às pressas apalpa

abre aparta rega e esfrega

eu obediente à minha natureza febril

ofegante entrego-me

ou entrego-te

sôfrega por culminar a refrega

co seu delicioso final arrepio

extasiada

nom che hai nada melhor

para correr o frio



by Eva Loureiro Vilarelhe





11.1.24

Quando ('Quatro' 11)






Mares plastificados

roupas desperdiçadas

polos derretidos

augas estragadas

e o frio quando há de vir?


Bosques mutilados

rios redirecionados 

acervos desmontados

desertos estendidos

e o vento quando há de zunir?


Verquidos incontrolados

fábricas desmesuradas

campos extenuados

animais escravizados

e o inverno quando nos há banir?



by Eva Loureiro Vilarelhe




21.12.23

Averno nom inverno si ('Quatro' 10)






E finalmente chega

nem tam frio

nem tam temido

este inverno esguio

que ora nos anega

ora venta com brio

neste inverno espilido

chove horas a fio

assulagando a minha pena

será o último a estar vadio?


O clima muda

nom só os tempos e as vontades

muda a terra

a nossa terra há demudar

antes do que pensardes

aquece o planeta!


E ao final há despejar

oxalá mais frio

jamais temido

aquel inverno esguio

onde outrora neva

agora vazio

aquel inverno espilido

co que me identifico

livre de dilema

averno nom inverno si ho



by Eva Loureiro Vilarelhe