13.12.21

Os anos ('Nacos' 8)









Os anos nom som só cabelos brancos 

rugas e olhos cansados 

os anos manifestam-se sobretudo na alma

coraçom 

sétima circunvoluçom do cérebro 

consciência 

ou como queiram chamá-la 


Os anos criam ao redor dela uma costra oleosa 

interessante cientificamente qual óvulo 

onde esbaram as saetas 

que dantes tam profundamente incidiam 

e apenas a alcançam aquelas que encontram o seu ponto 

fraco 

fecundando-a de sentido 


Si, sentido 

que parece recobram os jovens 

caminhando decididos a patinar nas pegadas experientes dos anos 

e daquela caem na conta 

que maravilha o vivido por viver 

e o sabido sabido 

—Achas? 


Se o emocionante é cair? 


Nom, melhor é erguer-se 

ainda com mais força 

ainda em quente 

sem sentir a dor 

que o frio dos anos faz sentir 

de todas as quedas da vida 

e daquelas que podam faltar 


—Falas dos anos que nom tés 

nom viveste nem conheces 

Só falo daquilo que penso 

já verei o que baralho quando os tiver 

—O quê vais ter… 

eles terám-te a ti! 

E ti como o sabes?! 


—Nom o sabia 

dixo-mo o olhar dessa velha cega 

que me trespassa e sorri 

pois conhece o assunto que tratamos 

Olha que inventas! 

—O mesminho ca ti 

ou é que nom vês o atrapada que ela está? 


Estás ti ela voa 

ou nom o sentes? 

(Breve lapso de reflexivo silêncio) 

—Sinto estarmos a malucar aqui as duas… 

(Rolda de gargalhadas

seguida de um abraço cúmplice) 

Nem que tivesses algo melhor que fazer! 


(E ao nom responder outorgou) 



by Eva Loureiro Vilarelhe