14.2.22

Corro para ir ter contigo ('Cantos contos' 3)










Quando estamos fora, deleitamo-nos rememorando aquilo que, à nossa volta, já nom é como lembrávamos. Porém, mesmo a constataçom desse desencanto é agradável. Bendita morrinha. Será por isso polo que gosto tanto da minha cidade. Bom, cidade por ser umha das sete grandes da Galiza, para mim: aldeia. Cos seus quatro pontos estratégicos, onde rompo filas e descanso armas. Onde sinto o amor e a paixom que esperta em mim este naco de mapa em que nacim. Ante a luz grisalha, capaz ainda de arrincar algumha faísca das atrapalhadas lajes húmidas da Madalena. O olor acre das vozes que se perdem entre as ondas dum mar Pantim Classic. Ou a olhada intensa dum muro que impede ver o mar, e deve ser derrubado —entom-por-que-doe-tanto-deitar-abaixo-um-pedaço-de-história?—. E o castelo encantado feiticeiro de barcos, anfitriom de ervagem à espera dum meigalho que o rejuvenecer, para ter namoro coa lua que tanto o apaixona, tranquila e sigilosa ali no alto. 


Por isso corro para ir ter contigo, Ferrol, assi que podo. E chego, e procuro, e comprovo cum rápido olhar se está todo. Está todo? E, mália que nom, pois é, está. Nesse momento, nom me importo coa opiniom que mereces para moitos. Nom reparo nas comparaçons, nos comentários depreciativos, nas desvalorizaçons, que me laiam aí dentro como fai a auga salgada nas roçaduras da vida. Porque em ti sinto-me mais eu. Se nalgum lugar, nalgum momento, tenho umha identidade determinada, um porquê, umha razom, é aqui. E dá-me igual o que digam. Nom, nom escoito mais que o bater do teu coraçom acompassado co meu. Só isso, porque no meu lar fico tranquila e sigilosa, tal que a lua ali no alto. 



by Eva Loureiro Vilarelhe