Falo cos meus filhos
ralho com eles até
e ainda nom nacerom
É complicado
treinar para ser mai
by Eva Loureiro Vilarelhe
Falo cos meus filhos
ralho com eles até
e ainda nom nacerom
É complicado
treinar para ser mai
by Eva Loureiro Vilarelhe
Oh mai, vou ser mai
E que?
Tenho medo
De que?
De nom o querer ser
de ter um bandulho enorme
de que fazer se o tenho
Querê-lo
E se nom me quere?
Amá-lo
E se nom o desejo?
Nom sê-lo
by Eva Loureiro Vilarelhe
Só os olhos anegados
delatam o sofrimento
aprendim a esquecer
ao mesmo tempo que a rir
se cadra é a única saída
by Eva Loureiro Vilarelhe
Busco a paz
a serenidade pola que tamém hei de pagar
como por todo
Busco a paz
o descanso da guerreira que mereço
como todas
Busco a paz
o silêncio do meu mundo embaralhado
como o de todos
Busco o jornal
que me permitir alcançar
a mulher-casa dos meus sonhos
e encontrar por fim
a paz
by Eva Loureiro Vilarelhe
Dorme coraçom
dorme
sonha meu amor
sonha
esquece o pesadelo
de viver sendo um
elo
da cadeia sem cabos soltos
by Eva Loureiro Vilarelhe
Nunca perguntei
mas sempre soubem
só era questom de escoitar
e esperar
pouco a pouco fum descobrindo umha história
a vossa história
triste e apaixonada
bonita e devastadora
como todas as de amor
alheia aos detalhes
entre duas almas que se amaram
em silêncio
vejo-vos distantes…
by Eva Loureiro Vilarelhe
Quando o sal dos meus olhos
nom derrete do teu peito o gelo
quando o teu alento de fumo
me deixa a mim sem el
quando aos brados destroças
qual onda expansiva
que me fica esperar?
Oh Mai cruel, em que te converteste?
—No Javé das pragas!
(Froito da vossa cobiça e soberba manifestas)
by Eva Loureiro Vilarelhe
Oles a lua cheia
a tempo sem horas
a dia de choiva
e fás-me sentir bela
Sabes a vento do sul
a noite de agosto
a canto de grilo
e fás-me sentir bela
Achega-te à luz
que te quero ver
by Eva Loureiro Vilarelhe
Vejo faíscas nos teus olhos
vaga-lumes no teu cabelo
o teu sorriso de lôstrego
e as tuas sardas de ouro
O que vês som as estrelas no céu
by Eva Loureiro Vilarelhe
‘bicho pequeno da terra’
Tinha umha escura fervença
que lhe bulia nas costas
tremeluzindo as estrelas
da noite mais amorosa
Tinha a pele alunarada
cheia de dunas marinhas
polas vozes peneiradas
das intrépidas ondinas
Tinha sonhos de gaivota
molhados em leite e mel
cos que atingiria um céu
escarchado de filhoas
by Eva Loureiro Vilarelhe
Quando estamos fora, deleitamo-nos rememorando aquilo que, à nossa volta, já nom é como lembrávamos. Porém, mesmo a constataçom desse desencanto é agradável. Bendita morrinha. Será por isso polo que gosto tanto da minha cidade. Bom, cidade por ser umha das sete grandes da Galiza, para mim: aldeia. Cos seus quatro pontos estratégicos, onde rompo filas e descanso armas. Onde sinto o amor e a paixom que esperta em mim este naco de mapa em que nacim. Ante a luz grisalha, capaz ainda de arrincar algumha faísca das atrapalhadas lajes húmidas da Madalena. O olor acre das vozes que se perdem entre as ondas dum mar Pantim Classic. Ou a olhada intensa dum muro que impede ver o mar, e deve ser derrubado —entom-por-que-doe-tanto-deitar-abaixo-um-pedaço-de-história?—. E o castelo encantado feiticeiro de barcos, anfitriom de ervagem à espera dum meigalho que o rejuvenecer, para ter namoro coa lua que tanto o apaixona, tranquila e sigilosa ali no alto.
Por isso corro para ir ter contigo, Ferrol, assi que podo. E chego, e procuro, e comprovo cum rápido olhar se está todo. Está todo? E, mália que nom, pois é, está. Nesse momento, nom me importo coa opiniom que mereces para moitos. Nom reparo nas comparaçons, nos comentários depreciativos, nas desvalorizaçons, que me laiam aí dentro como fai a auga salgada nas roçaduras da vida. Porque em ti sinto-me mais eu. Se nalgum lugar, nalgum momento, tenho umha identidade determinada, um porquê, umha razom, é aqui. E dá-me igual o que digam. Nom, nom escoito mais que o bater do teu coraçom acompassado co meu. Só isso, porque no meu lar fico tranquila e sigilosa, tal que a lua ali no alto.
by Eva Loureiro Vilarelhe
Para María Bores Bermejo
(14.12.1966-29.01.2022)
Essa luz
que emanavas ao teu passo
nom a levache contigo
Essa luz
do sorriso nos teus beiços
ficou connosco
Essa luz
que nos afaga ao lembrar-te
foi o teu último presente
Essa luz
que te fai seguir presente
entre nós e para sempre
Essa luz
do teu generoso amor de amiga
filha tia irmá companheira vital
Essa luz, María, é a tua calidez
que ilumina o coraçom
de quem estivo no teu
by Eva Loureiro Vilarelhe
Galiza é umha mulher de formas dondas e esponjosas
cujos peitos apontam para um céu que
supersticiosa
louva e abençoa
Umha mulher teimosa que mantém firme os seus ideais
com umha olhada perene e triste
Umha mulher que escondida chora os paus que recebe do destino
ou do tirano que a possui
Umha mulher sempre-nova sempre-viva
apesar de já luzir enrugas na testa
e que ainda há ter moitas mais
by Eva Loureiro Vilarelhe
Galiza arde
mas reverdece sempre
passeninhamente continua a estar
fresca qual mulher de má vida
que com ela comparte
malfado assumido
by Eva Loureiro Vilarelhe
Busco identidade
e nacim com ela
quero mudar o rumo das cousas
mas já é tarde
detesto a violência
sei que essa nom é a saída
Vivo dividida
entre dous mundos
duas histórias
dous países
duas culturas
by Eva Loureiro Vilarelhe
Chove e a tua cor verde cinzenta cintila
mas segue lene e tenra coma sempre
e quando nom chove choro
para que a verdura nom seque
e quando me achego a ti
som tamém verde
mas já verdeio desde que nacim
Todos nós ainda que nom nos decatemos
temos um cordom umbilical invisível
que nos une a ti
e quando andamos polo mundo adiante
sabe-se sempre o que somos
delatam-nos os olhos
esses íris pedreses que refletem
umha húmida faísca
quando ouvem o teu nome
ou ainda que nom o escoitem
by Eva Loureiro Vilarelhe
Será que podo voar do Ninho?
Atendo
Silêncio
Por que me torturas assi?
Quero escoitar
Preciso escoitar o que quero
e digo de umha vez
—fala
E continuo sem ouvir nada
todo o meu corpo asseja um som
Espreita
Indiferença
Olho a terra
que compreende a dor desesperada que já nom podo agachar
E insisto
—responde
NOM
que?
NOM
como?
NOM
Ora! Nom sei o que seria melhor…
by Eva Loureiro Vilarelhe