7.9.17

Um abano japonês ('Nacos' 2)






 Eu tinha um abano japonês. Fechado era uma estrutura metálica retangular semelhante a um utensílio qualquer. A laca preta que o recobria era suave e atraente, apesar de fria. Passava o tempo a jogar com o fecho. Ao abri-lo semelhava a cauda de um pavom albino. Aparecia o papel branco, como uma persiana desdobrava o seu candor. Apenas se rompia a sua nívea cor com um ponto vermelho. Mas nom assim ponto redondo perfeito. Mais bem semelhava umha pinga de sangue resseco caído num lenço, de um vermelho já esvaído, perdido. Apesar de ficar para um canto, nom deixava de me lembrar a bandeira nipona que entom eu desconhecia.
 
 De tanto abrir e fechar aquele abano acabou por estragar-se. Acontece. O papel é frágil e o uso acaba até com o mais grosso. Nom sei nem porquê me véu à memória o abano da minha infância. Umha noite qualquer, moitos anos depois de perdido o vestígio da sua existência, lembrei precisamente que existira e fora um objeto bem querido para mim. Tanto que me tirou o sono no momento em que, ao deitar-me, dei por que eu tinha um abano japonês.


 
by Eva Loureiro Vilarelhe