23.10.25

Eu sonhar, sonhar, sonhei… ('Lira' 3)






Homenageando a Rosalia de Castro




Eu sonhar, sonhar, sonhei,

a sorte nom era moita,

que nunca (delo me pesa)

fum meninha venturosa.

Sonhei como mal sabia

dando-lhe reviravoltas,

como fam os que pretendem

escapar da dolorosa.

Penalidades sofremos,

lástima de vida tola,

merecido tal castigo

polos pecados doutrora.

Aliás temos presentes

os nossos males de agora:

guerra, injustiça e traiçom,

a raça nunca melhora.

Mas aos poucos passeninho,

como quem nom quer a cousa,

fum sonhando esperançada

cumha existência nova.

Imaginei que seria

mais boniteira que a nossa,

bem mais alegre e riseira,

pacífica e primorosa,

desenhada por crianças

de almas puras e gozosas.

Salvaria-se o planeta

da nossa fétida impronta,

renascendo a primavera

e as estaçons tam fermosas,

sepultadas baixo o jugo

da lacra mais pavorosa.

Por fim cobiça esquecida,

convivência amorosa,

mais solidariedade,

e paz por riba de toda

primazia parcial: 

harmonia milagrosa! 

O sonho é realidade,

todo vira cor de rosa:

remoçada a humanidade,

o amor do mundo me afoga. 

Eu sonhar, sonhar, sonhei,

a sorte nom era moita,

mas que fazer, desgraçada,

se nom nacim venturosa!



by Eva Loureiro Vilarelhe