25.9.25

O silêncio mata







A colonizaçom é intrinsecamente genocida

lembremos tantos povos massacrados

terras despojadas de tantas vidas

despejadas por poderes taimados


O silêncio mata

e velaí está Gaza


Nunca esqueçamos: muçulmanos — negros

aborígenes australianos — nenos

ciganos — homossexuais — mulheres

sérvios — ucranianos — berberes 


O silêncio mata

e velaí está Gaza


E os governos assassinando à manda: 

Guatemala — Burundi — Darfur — Bósnia 

Colómbia — Bangladesh — Etiópia

Camboja — Timor-Leste - Ruanda


O silêncio mata

e velaí está Gaza


Matarom a maioria dos índios 

brasileiros — tibetanos — taínos 

americanos — uigures — arménios

ruaingas — ahmaras — curdos — assírios


O silêncio mata

e velaí está Gaza


Os judeus sofrerom o seu Holocausto 

—e os soviéticos e poloneses 

tamém romanis e deficientes—

mas negar a Nakba é —de facto— infausto


O silêncio mata

e velaí está Gaza


Os erros da história perpetrados

condenam sempre aos febles deserdados

alcemos a voz por todas as mortes

que unidos sempre seremos mais fortes


O teu silêncio mata

e serás cúmplice em Gaza



by Eva Loureiro Vilarelhe





13.8.25

Hesitante ('Figa' 6)






Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Vítima vista vingativa

desatendida a negativa


Marcas pancadas traumas lágrimas

fornicada até polas ânimas 


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


De pouco serve dizer nom

se vam com todo e sem perdom 


Adianta denunciar

se eles levam as de ganhar?


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Difícil decidir e o crime

cometido deixa-os livres


A nom ser que quadre a história 

sem falha dissuasória 


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Sempre estarei da tua parte

amiga mesmo que hesitante


Que atirem a primeira pedra 

quem sempre verdade dixera



by Eva Loureiro Vilarelhe





25.7.25

Renovar o plâncton ('Atlântidas' 6)







Quem for sereia a surcar mares

rios qual iara ou náiade

jogar coas ondas coma ondina

ou mai-d´auga uiara marina

dispor de engaiolante voz

faciana e corpo sedutor

para atrair àqueles homes

destrutores da vida síndrome

inequívoco do seu mal

caráter a erradicar já

desta sociedade banal


Sociedade crepuscular

—agoniante o capital—

só sustentável se mudar

e toda mudança começa

com umha revoluçom nesga

por onde há borbotar o sangue

desses homes por fim exangues

afogados por toda a parte

tingidos os rios e mares

de vermelho graças aos cantos

de sereia acabou o pranto


É hora de renovar o plâncton

nom dar comida aos peixes fartos

—esses ricos de pés calçados—

senom a espoliados pobres

que surcavam rios salobres

oceanos doutrora férteis

cos novos talentos versáteis

sementarei o mar de cadáveres

de genocidas dirigentes

da flor e a tona dos países

libertando-os de caciques



by Eva Loureiro Vilarelhe







9.6.25

Aranha ('Nacos' 13)







Por umha zona pouco transitada

num escuro canto quase tropeço

e logo vejo inerte àquela aranha

revestida com asas de morcego


abatidas polo ar intempestivo

da primavera incerta que estou a ter

e sem ser exclusiva minha advirto

certo rancor contra mim sem querer


ou querendo quem sabe quem ordena

chover sem trégua e após escampar

deixando detrás tam revolta a terra

que custa um mundo se recolocar


umha mesma refiro-me na mesma

como a lesma que o mundo anda alterado 

de altercado em altercado e eu seresma

oxalá for a aranha daqui ao lado



by Eva Loureiro Vilarelhe





17.5.25

Esta noite ('Lira' 2)







Palavra de casamento

nem cha dou nem cha darei

passar o tempo contigo

isso si que o farei


—cantiga tradicional



O tempo passa-se aginha

lisca contigo meu rei

a falar disto ou daquilo

ou mesmo sem dizer rem


O silêncio entre nós

é calmo e embriagador

a gozar do meu calar

a rente do teu calor


Deixa estar o casamento

palavra minha é lei

fica comigo esta noite

que manhá já che direi  



by Eva Loureiro Vilarelhe