13.8.25

Hesitante ('Figa' 6)






Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Vítima vista vingativa

desatendida a negativa


Marcas pancadas traumas lágrimas

fornicada até polas ânimas 


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


De pouco serve dizer nom

se vam com todo e sem perdom 


Adianta denunciar

se eles levam as de ganhar?


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Difícil decidir e o crime

cometido deixa-os livres


A nom ser que quadre a história 

sem falha dissuasória 


Disque dis e despois desdis

—Nom si? Ora nom, ora si!— 


Sempre estarei da tua parte

amiga mesmo que hesitante


Que atirem a primeira pedra 

quem sempre verdade dixera



by Eva Loureiro Vilarelhe





25.7.25

Renovar o plâncton ('Atlântidas' 6)







Quem for sereia a surcar mares

rios qual iara ou náiade

jogar coas ondas coma ondina

ou mai-d´auga uiara marina

dispor de engaiolante voz

faciana e corpo sedutor

para atrair àqueles homes

destrutores da vida síndrome

inequívoco do seu mal

caráter a erradicar já

desta sociedade banal


Sociedade crepuscular

—agoniante o capital—

só sustentável se mudar

e toda mudança começa

com umha revoluçom nesga

por onde há borbotar o sangue

desses homes por fim exangues

afogados por toda a parte

tingidos os rios e mares

de vermelho graças aos cantos

de sereia acabou o pranto


É hora de renovar o plâncton

nom dar comida aos peixes fartos

—esses ricos de pés calçados—

senom a espoliados pobres

que surcavam rios salobres

oceanos doutrora férteis

cos novos talentos versáteis

sementarei o mar de cadáveres

de genocidas dirigentes

da flor e a tona dos países

libertando-os de caciques



by Eva Loureiro Vilarelhe







9.6.25

Aranha ('Nacos' 14)







Por umha zona pouco transitada

num escuro canto quase tropeço

e logo vejo inerte àquela aranha

revestida com asas de morcego


abatidas polo ar intempestivo

da primavera incerta que estou a ter

e sem ser exclusiva minha advirto

certo rancor contra mim sem querer


ou querendo quem sabe quem ordena

chover sem trégua e após escampar

deixando detrás tam revolta a terra

que custa um mundo se recolocar


umha mesma refiro-me na mesma

como a lesma que o mundo anda alterado 

de altercado em altercado e eu seresma

oxalá for a aranha daqui ao lado



by Eva Loureiro Vilarelhe





17.5.25

Esta noite ('Lira' 2)







Palavra de casamento

nem cha dou nem cha darei

passar o tempo contigo

isso si que o farei


—cantiga tradicional



O tempo passa-se aginha

lisca contigo meu rei

a falar disto ou daquilo

ou mesmo sem dizer rem


O silêncio entre nós

é calmo e embriagador

a gozar do meu calar

a rente do teu calor


Deixa estar o casamento

palavra minha é lei

fica comigo esta noite

que manhá já che direi  



by Eva Loureiro Vilarelhe



         

23.4.25

Chamai-me desastre ('Nacos' 13 )










Percorro o caminho empedrado

andando a trancos e barrancos

sementar infelicidade 

é a minha especialidade

a inutilidade da vida

comigo à vontade fica

se se tratar de urucubaca

de mau olhado ou mera desgraça

nom saberia responder

nem nada hai que poda eu fazer

calamidade é o meu outro nome

desdita o meu alcume e catástrofe

o apelido mas chamai-me desastre



by Eva Loureiro Vilarelhe




13.3.25

Maresia ('Atlântidas' 5)








Mar, metade da minha alma é feita de maresia

—Sophia de Mello Breyner Andresen—


Em calma o meu rosto ante o ar desafia

a revolta interior que porfia


os meus olhos teimando discernir

no horizonte o final da maresia


as minhas maos prestes a fugir

tal que ondas revoltas em maresia


o meu peito ofegante por banir

de si o amor falido na maresia


—co coraçom em nacos no cantil

tal foi a força dessa maresia—


o meu ventre loitando por sair

da sua ensanguentada maresia


os meus pés a ponto de sucumbir

enredados na imersa maresia


da floresta marinha a resistir

por baixo a alma feita de maresia


a revolta própria que porfia

da minha calma nom se saberia                                                            



  by Eva Loureiro Vilarelhe