31.12.24

Fogos de artifício ('Fogos de artifício' 8)








Abre-se a flor

abre-se a mente

rebenta o rebento 

começa o deleite

enrugo o lençol 


Na primeira onda

ora expansiva

ora explosiva            

desfruto o momento              

e o prazer afonda 


De pau feito adentro

ou mesmo vazia

a segunda onda

chega e porfia 

a seiva borbota


Pressinto a terceira 

semento na leira 

saliva escorrega

danço ao seu som

redobra o tambor 


Os fogos às portas

—som de artifício—

enésimo anexo

do gozar complexo

meu único vício 



by Eva Loureiro Vilarelhe





19.12.24

Sono ('Nacos' 12 )







Estou sempre com sono

sono que nom sonho

—nom confundir prega-se—

sonho moito e tamém em sonhos

por mor da falta de sono

que diríamos a posteriori

de analisar a situaçom 


Hai animais cujo

período de letargo

dura até nove meses

a gestaçom dum bebé

numha piscadela de olhos

pechar os olhos e esvaecer

a semana de pesadelo

o mês a esquecer

até o ano estragado

dantes julgava que era

perder parte da vida

agora acho umha quimera

evaporar boa parte dela

a sonhá-la doutra perspectiva


Andai com olho intrusos 

—categórica até sangrar—

nunca esqueço umha face

e a saber se vou me vingar

coa escusa da falta de sono

que diríamos a posteriori

de analisar a situaçom 



Eva Loureiro Vilarelhe




25.11.24

Nom A matarás ('Figa' 5)






- A Ela sobre todas as cousas amarás


- Images Dela sem licença nom difundirás


- A Sua negativa em vao nunca tomarás


- Nas festas Dela nom abusarás


- Mesmo por riba do teu pai e da tua mai A honrarás 


- Nom A matarás


- Nom A enganarás


- A Sua autoestima nom furtarás


- Falso testemunho contra Ela nunca darás


- Só para ti jamais A cobiçarás


Home, se é tam simples, por que nom o fás?




by Eva Loureiro Vilarelhe





13.11.24

Maré ('Atlântidas' 3)








A voragem de persoas que me rodeia

o redemoinho de vozes ao meu redor

ecoam no meu coraçom bamboleante

enjoada e abafada por esta maré

de corpos e sons alienadores

ansiando eu tam só esse silêncio

a calma abissal das profundidades

desse oceano que me chama solarmeiro

liberador das amarras da vida insana

que acaba com todo o que nos rodeia



by Eva Loureiro Vilarelhe




31.10.24

Defuntos ('Lira' 1)







Sinos tocam a defuntos 

e nós assando castanhas 

temedes ao saca-untos

e os mortos nos acompanham


Uvas figos e cabaças

esqueletes mais caveiras

convivem nas nossas casas

junto ao lume das lareiras


Noite inçada de risadas

contos de medo na rolda

pam vinho e boas talhadas

nom me assombras negra sombra



by Eva Loureiro Vilarelhe




11.10.24

Ou ('Poesia incompleta para dissidentes' 3)







Partir ou murchar

eu opto por sementar


Perder ou lembrar

eu prefiro inventar


Durmir ou sofrer

eu escolho renascer


Tombar ou bater

eu acabo por mexer


Finar ou fugir

eu digo que bulir


Pousar ou mentir

eu costumo advertir


Ao loitar sem parar

havemos de vencer

ou ao menos resistir




by Eva Loureiro Vilarelhe 







25.9.24

Verdes ('Figa' 4)










Olhadas viscosas ar ofegante

maos ansiosas por apalpar

a manada opreme-as asfixiante

sente-se mesmo ao respirar


A inércia obriga-as a tropeçarem

no transporte público a rebentar

repleto de corpos bamboleantes

ao abrir-se as portas para baixar


Saias dançarinas descobrem pernas

risadas cantarinas saindo em tropel

coa entreperna em retirada ao vê-las

afastar-se às carreiras todas elas

resmunga amuado um dos jovens 

Ils sont trop verts!



Umha delas dá sinais de entender

volta rápida atrás desafiante

cos seus braços em jarra nos quadris

e o seu torso de deusa a reluzir


Nom somos para vós meu rei

e falo por mim e as minhas irmás

lampantim esquece o acoso e aprendei 

respeito é-vos boa hora de espertar


El nunca esquecerá esses olhos verdes

maduros altivos inteligentes

mudam as cativas e arrepende-se

a sós mas diante da greia depende



by Eva Loureiro Vilarelhe