21.11.22

Ainda ('in.timo' 11)





Um inocente gesto típico de ti

o inconfundível som da tua voz

o rastro do teu olor no corredor

persegue-me durante um bom anaco

trás cruzar-nos só um instante

qualquer tontaria prende em mim

umha lene carícia tua ao acaso

e o baixo ventre ressente-se

Abano a testa incrédula

como assi?

Ainda?

Ainda —rendo-me às evidências—

ainda detentas esse poder

ainda me mantés enfeitiçada

ainda me chegas ao mais fundo

ainda atinges o que mais ninguém

ainda tremo inocente nua ante ti



by Eva Loureiro Vilarelhe




11.11.22

Açulado ('Fogos de artifício' 1)








Azul vejo azul

umha favorecedora pátina azulada

recobre este onírico mundo submarino

borbulhante gargalhada 

ao reconhecer tal inverosimilhança

demoro em dar por que se pode respirar

—coa boca cheia e todo—

o que me leva constatar que está a sugar

um belo pau com fruiçom aparente

quem recebe por trás com gosto anal

—nunca som eu a que protagoniza a encenaçom

mesmo que me identifique coa fantasiosa

protagonista cujas aventuras me incitam

a masturbar-me tam excitada quanto ela—

e a sua colega acaricia os seios de ambas

ofegante é a verdadeira mestra de cerimónias 

—se houver algo de verdade no conto matizo

gosto de ser consciente mesmo no subaquático—

que demostra a sua mestria introduzindo dous dedos

de inofensivas unhas polidas na vagina da sua amiga

—amante e bem cara corrijo-me de novo

em vista dos esforços que fai por comprazê-la—

gozando do prazer que generosa outorga 

perseguindo um bonito de ver e alheio êxtase

iminente a julgar polas respiraçons entrecortadas

do trio que segue as indicaçons da sua batuta

—fálica observância apontaria um invejoso freudiano

eu garanto que nom precisamos de pénis para presumir de falo—

toca allegro ma non troppo e os acordes mudam as tornas

retira os dedos para que o membro rijo a preencha

dura pouco a dupla penetraçom o que vem de entrar vem-se

de imediato e a espectadora desejaria ser ela a emprenhá-la

o sémen nom flutua tal como fai a minha frondosa cabeleira

espumado esperma escorrega polas coxas ainda abertas  

ao retirar-se flácida e abençoada a primeira verga

a segunda reclama o espaço desabitado para si

assi em quadrúpede avanço até os lábios húmidos dela

ávida língua em pá para o clítoris em cunha para dentro

invejo os beijos na boca que lhe dá o soldado ferido de morte  

noto-a a ponto de correr-se os estertores nas costas afiançados

apressuro-me a unir-me a eles ela sem calar nem baixo da auga

o seu gozo soa a música celestial aos meus ouvidos

e sinto por fim o ansiado e açulado orgasmo azulado 

azul vejo azul




by Eva Loureiro Vilarelhe