—Homenageando a Rosalia de Castro
Eu sonhar, sonhar, sonhei,
a sorte nom era moita,
que nunca (delo me pesa)
fum meninha venturosa.
Sonhei como mal sabia
dando-lhe reviravoltas,
como fam os que pretendem
escapar da dolorosa.
Penalidades sofremos,
lástima de vida tola,
merecido tal castigo
polos pecados doutrora.
Aliás temos presentes
os nossos males de agora:
guerra, injustiça e traiçom,
a raça nunca melhora.
Mas aos poucos passeninho,
como quem nom quer a cousa,
fum sonhando esperançada
cumha existência nova.
Imaginei que seria
mais boniteira que a nossa,
bem mais alegre e riseira,
pacífica e primorosa,
desenhada por crianças
de almas puras e gozosas.
Salvaria-se o planeta
da nossa fétida impronta,
renascendo a primavera
e as estaçons tam fermosas,
sepultadas baixo o jugo
da lacra mais pavorosa.
Por fim cobiça esquecida,
convivência amorosa,
mais solidariedade,
e paz por riba de toda
primazia parcial:
harmonia milagrosa!
O sonho é realidade,
todo vira cor de rosa:
remoçada a humanidade,
o amor do mundo me afoga.
Eu sonhar, sonhar, sonhei,
a sorte nom era moita,
mas que fazer, desgraçada,
se nom nacim venturosa!
by Eva Loureiro Vilarelhe


