Nom se amavam, nem estavam apaixonados, só se respeitavam. Riam moito juntos, isso si, sempre na cama. Ou em qualquer outro lugar dos quartos dos hotéis onde se viam. Parece mentira como acabam por ser parecidos todos os hotéis nas lembranças, e como se diferenciavam os gestos e as palavras de cada encontro. Nom podiam dizer quando se conheceram e moito menos como era que tinham acabado juntos, mas o facto é que era assi. E como era bom! Nunca falavam do dia a dia, sabiam que partilhavam algumas afiçons e leituras comuns, conversavam descontraidamente, porém nem sabiam como se chamavam, ou preferiam nom saber... Usavam alcumes vários, segundo as épocas. Passavam meses sem ver-se, algum que outro ano até. Afinal coincidiam, sempre coincidiam nalgures no momento oportuno de nom levantar suspeitas na casa. Tampouco falavam de infidelidade, mesmo que os temas gerais da preocupaçom filosófica humana fossem frequentemente focados. Talvez nem mesmo pensassem nisso. Ele já tinha sido numha ocasiom anterior e nom gostara. Agora era diferente. Nom saberia explicar os motivos. Mas era-o. Ela nom. Até chegara a pensar que nom seria capaz de fazer algo assi. Nom tinha remorsos, nem sentimento de culpa, nem se sentia suja, nem traidora. Senom livre. E desejada. Gostava dessa sensaçom. Nom lhes ia mal nas suas vidas habituais. Eram conscientes de terem sido amados e de serem amados. Aquilo era outra cousa. Umha descoberta cada vez. Reconheciam-se após o tempo sem ver-se, sentiam os quilos de mais ou de menos, as rugas, as marcas na pele, as mudanças da idade, e da experiência. A experiência que os ajudava a tirarem maior proveito do prazer de revisitarem-se mutuamente. E como era bom! Sem sentido. Talvez. Desejavam-se. Era inevitável. Mas o melhor eram precisamente os espaços em branco que deviam preencher em cada reencontro.
Simplesmente eram ocasionalmente amantes.
by Eva Loureiro Vilarelhe